Duas perguntas intermináveis: Qual é o significado da morte do pai de um menino de quatro anos? Quais as consequências disso? anunciam o cerne deste romance de Pedro Ângelo. A sombra imensa do pai ausente, à sombra de uma palmeira que já não há, do verso de Chico Buarque, desata uma atmosfera melancólica de esquecimentos e recordações. Mas o protagonista desta ficção é mais um observador minucioso que um memorioso, menos um sentimental que um leitor sutil, é, sobretudo, o perseguidor de um espectro. O relato está atravessado por leituras precisas de Ricardo Piglia, Roberto Bolaño, Joseph Conrad e Franz Kafka, ademais de menções pontuais a Jorge Luis Borges e Adolfo Bioy Casares. Marguerite Duras, Georges Perec, Graciliano Ramos, Fernando Pessoa, a biblioteca interminável espreita dentre as páginas do livro, contendo, de algum modo, a amorosa jornada.
A procura pelo pai, tido como morto quando ele era uma criança, guia a personagem por uma trama de descrições preciosas, divagações, sonhos e entressonhos. Ângelo, o pai, o procurado, persegue o narrador como um doppelgänger, um duplo que se vislumbra através das vitrines das cidades. Um anjo que somente se deixa ver em rastros – as sobrancelhas –, e do qual pouco e nada se conhece. As informações que o protagonista consegue são vagas, imprecisas. A mãe é reticente, o amigo, lacônico. Entrecruzam-se viagens no espaço e no tempo – Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Varsóvia, Lisboa –, presente e passado superpõem-se em transparências e opacidades.
Mas não é somente o passado pessoal, basta um encontro, um instante para se remontar à revolução portuguesa, à segunda guerra, à ditadura na Argentina. Cicatrizes não suturadas da sociedade afetam o narrador, um leitor de livros e mundos.
Para mim ele era apenas uma palavra, disse o autor, citando o que o Marlow de Joseph Conrad disse sobre o senhor Kurtz. Três palavras, para Pedro, mas com um significado, talvez, mais terrível que o terrível senhor Kurtz.
Maria Angélica Melendi


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