O mote desta coletânea de poemas é a congoja: uma palavra em essência intraduzível na nossa língua que, em castelhano, designa a experiência dolorosa da vida traduzida por dor, por aflição, por angústia — angor, anxietas, co-angustia. Foi Miguel de Unamuno, um dos grandes poetas e filósofos espanhóis do século 20, quem plasmou a ideia da experiência pungente da vida como congoja e nela alicerçou o “trágico sentimento da vida” enquanto profunda experiência existencial. Diz Unamuno: “A vida é uma tragédia, e uma tragédia é uma batalha constante sem vitória, e sem esperança de vitória: ela é uma contradição.” Tudo o que vive é encarcerado nesta contradição, e só experienciamos a existência na medida em que nos encontramos nesse paradoxo. Em face da morte inevitável, até mesmo a vida encerra uma contradição, pois a vida anseia por viver, não por morrer. O argumento medular do livro é essa experiência profunda do absurdo preconizada por Unamuno como batalha trágica do homem por salvar-se, no anelo do salto imortal que nada mais é do que a peleja pela própria consciência. A congoja e outros poemas faz gracejos com a questão do desejo de imortalidade e com as contradições nele incluídas, e o poeta explora esse sentimento trágico da vida, provocando no leitor uma tomada de posição subjetiva e prático-vital — não arbitrariamente vinculada a uma ordem metafísica, porém sujeita unicamente à paixão da subjetividade que se alia à potência fabuladora da fantasia ou mesmo ao poder revelador da fé, não em sentido dogmático, mas existencial.


Estrada do Excelsior
Vento, vigília
Da capo al fine
1922
Cinco prefácios para cinco livros não escritos
O mar que restou nos olhos
A gaia ciência de James Joyce
A paixão mortal de Paulo
Nas frestas das fendas 

