Este livro nasce de longa e multifacetada pesquisa sobre um documento histórico muito precioso da diáspora africana no Brasil.
A Obra nova de língua mina, traduzida ao nosso idioma português foi um manuscrito elaborado em Ouro Preto em 1731, seguido de uma versão ampliada em 1741, pelo escrivão português Antônio da Costa Peixoto. No formato de um livro manuscrito, consiste numa tradução da então chamada língua geral de mina (línguas gbe do atual Benim) para o português local, trazendo à cena diálogos entre os falantes dessa língua africana e os falantes de português.
Construo uma análise no campo da história social, e procuro evidenciar a voz africana no documento, representada metaforicamente por Rita, uma mulher africana, escravizada que se libertou, foi dona de uma venda num arraial mineiro, teve uma filha com Antônio. Rita incorpora milhares de mulheres africanas oriundas do atual Benim, de papel fundamental na região mineradora: atuaram no pequeno comércio, usaram sua matemática, negociaram afetos, tiveram casas e filhos, se aproximaram do poder da escrita e, principalmente, foram guardiãs de uma memória e conhecimento africanos decisivos na formação social da população brasileira.
Rita, a coautora da tradução, não sabia escrever, mas fez uso da mão do escrivão para sobreviver na terra do branco.
A memória de minha família, originada nas roças de cacau no sul da Bahia, faz parte de uma série de experiências de vida que também trago para este livro, pois moldaram meu olhar de historiadora e minha pena como escritora de história.
Conduzo um passeio reflexivo e doloroso pela história do Brasil, mas sabendo que em alguns de seus subterrâneos a vida continuou soprando.