[Livro em pré-venda – envio a partir de 10 de dezembro]
Em Assassinatos e outros clarões, Ronaldo Medeiros de Albuquerque acende a luz em quartos, motéis, casas de subúrbio e palacetes improváveis, revelando o que costuma ficar fora de quadro. Entre Honório Gurgel, Realengo, Madureira, Méier e tantos endereços anônimos, desfilam maridos de aluguel, cabeleireiras exaustas, enfermeiras devotadas, filhas adolescentes, padres de “santos óleos” suspeitos, prostitutas organizando o próprio destino – e, em torno deles, o trio clássico: sexo, dinheiro e morte.
Nos contos que abrem o livro, um “rato” de loja descobre que o amor pode muito bem vir embalado num plano de incêndio; um padre piedoso guarda um segredo viscoso; um viúvo em potencial ensaia a própria libertação à beira do leito da esposa; uma filha de quarenta anos acerta as contas com a mãe morta no mesmo dia em que comemora o aniversário. Sempre há um crime em curso – consumado ou apenas imaginado –, mas o que interessa a Ronaldo não é o mistério policial, e sim o clarão de consciência que atravessa seus personagens quando a vida chega ao ponto de não retorno.
A cada narrativa, o leitor é empurrado para dentro dessas situações-limite, sem a proteção de julgamentos fáceis. O autor sabe explorar o humor ácido, a sordidez e uma inesperada ternura que às vezes lampeja no meio do desastre, compondo um painel de afetos embarrados, decisões torpes e desejos que não cabem nas boas maneiras. Entre a gargalhada culpada e o desconforto moral, Assassinatos e outros clarões nos lembra que, em certas circunstâncias, é difícil apontar o dedo para alguém sem sentir, por instantes, a mão chamuscada.


Tartamudo 
