O reflexo pode ser o espelho, a fotografia, o instante suspenso que nos devolve uma imagem – mas, na poesia de Fernanda Oliveira, ele é também o pensamento que se dobra sobre si mesmo, a lembrança que reaparece com outra cor, a sensação que muda de forma conforme o dia. “Ainda bem que a vida é cada hora de um jeito”, escreve a poeta, e é desse imprevisível que brotam seus versos: encontros e distâncias, silêncios e conversas, o sossego e a inquietação que se alternam como luz e sombra.
Em Através do reflexo, a autora nos convida a percorrer o que é pequeno e, justamente por isso, essencial: a calma de estar ao lado de quem se ama sem precisar dizer nada; o alívio de uma confirmação que chega tarde; o frio e o céu azul de uma manhã que parece viagem; o gesto que, mesmo simples, muda o rumo de um dia. Há também o reconhecimento da confusão, do medo, das perguntas que se repetem – e, ao lado delas, a serenidade que se aprende com o tempo e com o outro.
Fernanda compartilha, com sua voz direta e íntima, momentos que parecem nossos, como se também nos víssemos refletidos nessas páginas. Entre a ternura e a franqueza, seus poemas registram o que se sente antes mesmo que possamos nomear: a paixão quieta, a alegria inesperada, a saudade que se insinua. E, nesse reflexo múltiplo, o leitor descobre que a poesia, mais do que explicar, acolhe – e que é possível, mesmo no turbilhão, encontrar o instante exato em que tudo se acalma e a vida, outra vez, nos preenche.



