[Livro em pré-venda – envio a partir de 10 de setembro]
Dois copistas parisienses, Bouvard e Pécuchet, herdam uma fortuna e decidem se retirar para o campo. A partir daí, passam a devorar livros e tratados sobre tudo o que encontram pela frente — agricultura, medicina, filosofia, pedagogia, religião, arqueologia — para em seguida aplicar, com entusiasmo e desastres garantidos, cada novo conhecimento adquirido. O que começa como uma fábula simples logo se transforma em uma sátira monumental: Flaubert cria, nesse seu projeto derradeiro, um romance enciclopédico sobre a tolice humana, um inventário das ideias feitas e da incapacidade de compreender e transformar a leitura em experiência de vida.
Se Madame Bovary revelou os falsos sentimentos de Emma, em Bouvard e Pécuchet encontramos dois homens de falsos saberes. Copiadores por profissão, acabam por copiar também as ideias e métodos alheios, sem jamais alcançar a autenticidade. Mas é justamente nesse fracasso que reside a força da obra: ao encenar a repetição, a cópia e a biblioteca infinita, Flaubert antecipa a literatura moderna e desmonta a pretensão de toda verdade absoluta.
Mais de um século depois, a “epopeia da idiotice” permanece estranhamente atual. Em tempos de redes sociais, de certezas superficiais e de opiniões instantâneas, Bouvard e Pécuchet soam como espelhos da nossa própria incapacidade de distinguir entre saber e caricatura do saber. Sua ingenuidade, ao mesmo tempo trágica e cômica, nos convida a refletir sobre os limites da leitura, sobre a loucura de querer abarcar o mundo pelos livros e, sobretudo, sobre a insistência da literatura em sobreviver no vazio do “nada” que
Flaubert tanto buscava.
Nesta nova tradução inédita, Jacques Fux e Fernanda Ferreira dos Santos recriam com rigor e humor o estilo truncado e irônico do original, além de oferecer notas críticas que dialogam com o leitor de hoje. O resultado é uma obra que não apenas restitui o frescor de um dos mais radicais romances do século XIX, mas também convida a rir, pensar e, quem sabe, copiar — porque, afinal, como Flaubert e seus “homenzinhos” demonstram, não há experiência de leitura que não seja também uma forma de vida.