[Livro em pré-venda – envio a partir de 7 de dezembro]
Há poetas que fazem da palavra um grito; outros, um murmúrio. Fernando Abreu prefere o segundo gesto: o de quem recolhe os estilhaços do cotidiano para recompor, com delicadeza e espanto, a experiência de estar vivo. Em Cavalo na rua fantasma, ele transforma a banalidade em revelação – o pastel de feira, a pia entupida, as “corujinhas pretas & azuis em fundo branco encardido” – tudo o que parece insignificante ganha densidade e mistério sob o olhar do poeta.
Mas a serenidade é apenas aparente. Por trás do tom conversado e das cenas domésticas, pulsa uma inquietação antiga: a da palavra diante do indizível. Abreu investiga o próprio ato de escrever como quem testa o alcance de um instrumento sagrado – “arranco o poema do livro”, confessa, “e penduro no pescoço”. É dessa fé discreta na poesia, e da recusa ao espetáculo, que nasce a força de seus versos. Ao rejeitar adornos e buscar a precisão de um gesto quase ascético, o poeta se aproxima da tradição de William Carlos Williams e Wislawa Szymborska, extraindo epifanias mínimas do que é comum e precário. Seu trabalho é o de quem insiste em enxergar sentido onde tudo parece ruir — o de quem não desiste, mesmo quando a esperança é apenas um lampejo entre ruínas. Cavalo na rua fantasma é o testemunho dessa persistência. Um livro que, sem alarde, reafirma a poesia como forma de resistência e de sobrevivência — um abrigo possível contra o silêncio do mundo.


O fim do Brasil 