A travessia. Atravessar o deserto e ser ainda estrangeiro. Atravessar o deserto porque lá se forja o encontro com a divindade. Mas é preciso reparar, a divindade para Fany Aktinol está nas coisas pequenas ao seu alcance. Mesmo as paixões arrebatadoras, porque as há, na vida, devem ficar um tempo mínimo no coração. Então ser simples e peregrino para encontrar o que nos fará transcender, então ser raro, estranhamente raro, maravilhoso.
Há uma melancolia e há uma imperturbável esperança nos versos que li. Uma inventividade que marca a poesia sensível e que se faz sempre no conhecer e no reconhecer, uma inventividade das coisas mais simples, aquilo que nos põe em perspectiva. Dizer o simples não é dizer o óbvio. Dizer o simples é simplesmente dizer. O que Fany faz é tirar o véu dos olhos, é desvendar literalmente o pano que embaça a retina e que nos encobre a essência das coisas, da noite, do dia, o semear e o aguardo da tempestade. Talvez daí o mundo seja sempre o mundo do outro. Nossa presença, uma presença estrangeira. Mas todo estrangeiro é constituído de uma espera, por isso, esperança. O desejo impossível de reencontrarmos o que perdemos, então é assim que nasce o amor, o amor pelas coisas naturais que jamais serão nossas, o amor não intempestivo, aquele que só surge com a maturidade.
Ler Dentro da luz estrangeira é perceber que o único achado possível para a vida é a arte.
fiori esaú ferrari


Imperfeito
Umbigo
Metrô
Toda família tem uma
Sobre as árvores solitárias e os gritos que ecoam nas erosões
Todo abismo é navegável a barquinhos de papel
Sintaxe do amor
Nenhum nome onde morar
Ir, embora
Corvos contra a noite
Quieto
Pulvis
Contos contidos
Dinossauro emancipado
Todo dia é domingo
Poemas para morder a parede
O tempo amansa / a gente
Fausto tropical
O assassinato da rosa 

