Vencedor do Prêmio Jabuti Acadêmico 2024 – Categoria: Antropologia, Sociologia, Demografia, Ciência Política e Relações Internacionais
O livro de Suzane de Alencar Vieira é um acontecimento raro no mundo da palavra escrita em geral e da antropologia em particular. Ele é o resultado do encontro da sensibilidade etnográfica incomum da autora com um povo capaz de elevar aos mais altos graus a potência revolucionária da alegria.
Os quilombolas da Malhada, comunidade próxima à Caetité, Alto Sertão da Bahia, vivem há séculos no semiárido baiano. Como boa parte dos quilombolas, se instalaram em terras pouco visadas pela plantation agroexportadora, fugidos do cativeiro e das disputas violentas por terra, marcas de nascença – mais atuais do que nunca – da história do Brasil.
Mas eis que o chamado “desenvolvimento” bate às portas da comunidade. Em 2000 se instala na região a mineração de urânio e a produção de yellowcake, matéria-prima do combustível de usinas e armas atômicas. A invisível radioatividade liberada no ambiente – tema do primeiro livro de Suzane – traz consigo a contaminação das águas, pessoas, plantas e animais. Nos anos 2010, perversamente associadas ao discurso do combate às mudanças climáticas, um parque de usinas eólicas tenta se instalar nas terras da Malhada.
Cecília Mello
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Quando a autora deste livro escreve ser ele uma “teoria etnográfica da resistência”, que “consistiu em um agenciamento que interseciona os planos filosóficos e etnográficos para tentar acompanhar sinais e rastros de um movimento complexo e divergente, como o pensamento ecológico quilombola”, ela define com precisão exatamente o que fez. Partindo de um trabalho de campo intensivo na comunidade quilombola da Malhada, situada no município de Caetité, no sudoeste da Bahia, Suzane escreveu uma linda e brilhante etnografia, ao mesmo tempo clássica e singular. […]
Marcio Goldman




