JARDIM DE RUÍNAS

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REF: 9786559058280 Categoria:

Sob as bênçãos de uma serpente que engole a própria cauda, o primeiro poema dá o tom deste livro: o eu que aqui fala é sobretudo um nó de bactérias, células gastas, cutículas, e acena indeciso entre olá e adeus. Essa indecisão é associada logo de início ao movimento moebiusiano que acaba por ritmar o conjunto de poemas, reiterando-se por meio de alianças insuspeitas, imagens improváveis. Trata-se de uma escrita cujo êxito se deve antes à força dessas imagens – a fim de “saudar o impossível”, Alexia Carpilovsky usa a língua como se usasse um pincel. E coleciona seus motivos aberrantes em uma paisagem ora pré-histórica, ora apocalíptica, habitada por uma fauna de seres, deuses, coisas. Multiplicam-se aí os pactos surpreendentes, selados por cães, galinha, cigarra, cidades, naufrágios, vértebra, escada, filmes, mapas, dentes, vazios, coceira, beiços, tempos, lombo, cracas, línguas, brechas, tendão, vogais, “volume altura profundidade / relevos”.

É sem dúvida uma fauna, e das mais estranhas, mas não nos esqueçamos da flora sugerida pelo título. Pondero, então, que talvez estejamos diante de uma indecidível fauna-flora, cultivada por uma indecidível jardineira-açougueira, que vivifica em seus poemas a indecisão entre colher e carnear. Seja como for, ela persegue o desejo de uma voz metamórfica, isto é, uma voz capaz de se imiscuir em tudo; capaz, enfim, de encarnar a açougueira e o animal de corte, a flor carnívora e a jardineira.

Eis o JARDIM DE RUÍNAS. Atentemos à força desse título. Jardim mal evoca o florescimento, e logo o expulsam as destroçadas ruínas, plantadas pela poeta com o amor de quem lambe feridas. À ruína, que costuma se restringir a essa condição de destroço, Alexia adiciona uma vocação de véspera. O título prenuncia assim o que virá: à maneira de dois pavios mutuamente acendedores e inflamáveis, trançam-se vésperas e destroços numa poética que é mais corpo do que verbo, corpo esse a um só tempo ínfimo e onipresente. Afinal, “o próximo dilúvio bíblico / chegará primeiro como / decadência miúda”. [Julia Klien]

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