O prédio mais luxuoso de Curitiba ergue-se como um lembrete cruel na vida do narrador — um jovem porteiro que observa, de perto e de fora, o abismo que separa ricos e pobres. Da varanda de casa, onde as frestas das paredes deixam entrar o frio, ele mira a torre de vidro que reflete um mundo inalcançável. Cresceu entre mulheres que aprenderam a tornar invisíveis as riquezas alheias, enquanto eram invisibilizadas na rotina de trabalhos extenuantes como domésticas. A infância, marcada por humilhações e silêncios forçados, fez dele um homem que prefere pensar a falar – e que, nas gavetas de sua mente, arquiva planos.
O livro mergulha nas contradições de um país em que privilégios e miséria coexistem lado a lado. Entre memórias familiares, análises sociais afiadas e uma ética própria, o protagonista decide agir: devolver, à sua maneira, parte da dignidade negada à mãe e à avó. Para isso, precisa compreender os hábitos dos ricos, infiltrar-se em seus espaços blindados e escolher o momento exato de romper as regras.
Com narrativa intensa e olhar cortante sobre as desigualdades brasileiras, Marginal acompanha o percurso de alguém que, cercado de ameaças e injustiças, encontra no crime um gesto de reparação. Não há heróis nem vilões claros aqui – apenas vidas atravessadas por um sistema que naturaliza castas e torna a ousadia um ato de sobrevivência.


No domínio de Suã 

