[Livro em pré-venda – envio a partir de 6 de dezembro]
Os 938 decassílabos deste encantador Meia sete (sonetos anotados) abrigam sutilezas que convocam o olhar atento do leitor. Aparentemente não rimados – seriam denominados “brancos” -, os versos, na verdade e com frequência, contêm rimas toantes – pouco perceptíveis, pois, fugindo do convencional padrão de coincidência fonética total entre vogais tônicas, elas desdobram-se em variantes que incidem em vogais orais e nasais, ou em timbres abertos e fechados.
Esses são exemplos da mestria técnica de Wilberth Salgueiro, que, além de poeta, é sagaz ensaísta e professor de literatura. Seu veio “pedagógico” se demonstra nas anotações que acompanham os poemas, num original diálogo entre a voz do criador e a do comentador. Os pertinentes e saborosos adendos aos sonetos não pretendem, porém, determinar ou esgotar a interpretação dos textos, mas somente iluminar aspectos menos evidentes nos processos de construção de formas e de sentidos.
Os poemas, em larga maioria narrativos, apresentam versos que levam ao extremo a prática do enjambement, e desenvolvem, em sete seções, largo espectro temático, temperado pelo molho do humor e da ironia. Há reiteradas homenagens à literatura e a outras artes, bem como tertúlias de botequim e histórias pessoais: para tal resgate da memória familiar, poderíamos recorrer à expressão “autopoesia”, correlata à “autoficção”. Ou, talvez de modo mais preciso, à categoria de “autoficção poética”. Sabiamente, Wilberth não optou, no título da obra, pelo (previsível) numeral Sessenta e sete, e sim por Meia sete, que, afinal, carrega em si um sentido suplementar: se a “meia” é sete, qual será então a “inteira”, o dobro dessa metade? Catorze – o exato número de versos que compõem cada peça do livro.
Antonio Carlos Secchin


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