Entre desertos e jardins, entre a música quase inaudível de uma flauta e o rumor invisível das estrelas, Vania Azamor constrói em Minaretes e mistério uma travessia poética que é também uma viagem espiritual. Inspirados em jornadas pela Andaluzia, Marrocos e Uzbequistão, os poemas evocam minaretes que se erguem como faróis de fé, caravansarais que abrigam vozes ancestrais e paisagens que ainda hoje ressoam com a memória de quem as percorreu.
Mas não se trata apenas de registrar lugares: o livro busca a essência do que permanece além do visível. Cada imagem – a água que corre, a pera sobre a pia, o tapete de oração, o jardim de Generalife – torna-se metáfora de uma busca interior. Rumi ecoa em epígrafes e silêncios, lembrando que a poesia pode ser via de ascensão, alquimia capaz de transmutar a experiência mais simples em revelação.
Ao lado das evocações místicas e das paisagens orientais, há também um olhar amoroso e atento para a beleza do cotidiano: o gesto partilhado, o alimento que se prepara, o sorriso desembrulhado. O sagrado, aqui, não está distante: pulsa no detalhe, naquilo que liga o humano ao divino, o transitório ao eterno.
Minaretes e mistério é, assim, um convite ao leitor: percorrer versos como quem atravessa desertos e cidades, acolher a música quase secreta que vibra no silêncio, reconhecer-se como parte dessa “poeira de estrelas” que, ao mesmo tempo efêmera e infinita, sustenta o mistério da vida.



