Na sombra da dúvida passeia com leveza em territórios densos, porém inegavelmente familiares e belos. A poesia de Manu Vaghi Gama fala sobre nascimentos imparáveis e transforma-se em uma verdadeira ferramenta para satisfazer a curiosidade antiga de alcançar o implícito. Seu texto nos leva a refletir sobre os complexos não ditos, mas que estão presentes: os acordos tácitos da pressa adulta que se sobrepõem desde que surgimos – e seguem em constante consolidação a cada (re)nascimento. Criando uma analogia entre o movimento orgânico, corpóreo e o desconforto existencial, a escrita da autora transmuta a palavra em pele. Um corpo insubordinado, faminto, e que numa falta de educação que não ofende, prende não só o dedo, mas o olho de quem o lê. É uma obra que alimenta um fogo quase divino de eterna renovação, que alcança onde nada além da poesia pode alcançar: as múltiplas dores de ter o corpo invadido, de ser mulher, da carne e do osso, do fingimento, da indefinição. Manu Vaghi Gama estreia como poeta com este belo livro que questiona as possibilidades de ir fundo sem perder o ar.