O poema não é o que você lê – começando pela manhã de sábado, passando por um olho mágico e por muitas interlocuções ao longo das páginas e dos versos, vale o aviso logo de início. Afinal a poesia trata também do que não está dito, aquilo que vai além das imagens, das palavras, das cenas e dos vestígios que o poeta espalha pelo livro, num jogo constante entre o que é escrito, o que é visto, o que ofusca e assusta a retina e o que mais couber a cada novo olhar, nas profundezas desses olhos rasos. Se o olhar é uma chave de leitura, com as impressões que deixa gravadas e se traduzem na câmara obscura da alma (ínfima miragem / tatuada na memória), naquilo que fica registrado e vai além de uma vida, há também muitas outras chaves a explorar aqui – o som do primeiro disco de Coltrane, um xamã solitário no meio da mata, um baião de mar, as cores do fim do mundo, um violino ao redor das olheiras… o poema não é o que você vê, mas enquanto o sol iluminar a lábia do poeta, existirá um novo mundo a decifrar a cada nova leitura, a cada descoberta, dentro de cada novo leitor.