O livro das nuvens

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Numa era dominada pelo retrocesso mental e substituição do humano pela máquina, da convivência pela tela, do sensível pelo robótico, Samuel Marinho constrói uma poética da tecnologia — contradiscurso que devassa emblemas do capital. IAs, selfies, plataformas, posts e todo um aparato contemporâneo-futurista surgem como imagem, como alegoria, nas duas seções que dividem o livro, “Blue” e “Ponto de orvalho”. Samuel confere à dureza da criptografia e dos algoritmos uma roupagem lírica que interage com questões (sob uma cariz sagaz) a respeito do que nos move e do que ainda resta de humanidade no planeta, como em “captcha”: “nem me arrisco mais a saber / se é real ou se é engano // o robô na tela / a perguntar / se sou eu / quem sou / o humano”. A crítica afiada leva o leitor a navegar nos cabos de fibra ótica injetados, progressivamente, no que há de mais íntimo.

E quando afirmo que o autor erige uma poética, cuja linguagem é sóbria e musical, da tecnologia deste século, não o circunscrevo a um período datado, pois Marinho opera por uma via que sobrevive ao tempo.

A verve amorosa, marcada pela indiferença do ser amado, a infância — iniciática e perdida — e a imagem da casa, tematizada, também, pelo arquipélago São Luís, figuram como um tempo-espaço muito antigo, robustecendo o quão obsoletos estão o amor e a vida como a conhecemos, a exemplo deste trecho de “ideias para viralizar um post”: “[…] nada mais de filosofia tóxica / e o que mais possa / afastar a clientela / do outro lado ensandecida / uma multidão disposta / a comprar a vida / vestida de aquarela”.  Insurgem, nessa medida, como contra-hegemonia, a casa de Josefina, Aurita, Guilhermina, Maria da Graça, Maria de Lourdes, Maria Simas, Camélia, Maria Luiza, Maria Elisabeth e Dona Tomázia, lugares/seres do nostálgico e impalpável.

Por meio de sua força imagética, plena de beleza, o livro nos dá punhados de alegria, incandescendo a peregrinação de/por um reencantamento do mundo, em contraposição ao desencanto proposto por Max Weber. Com máxima precisão, as nuvens tão visuais quanto imaginadas aqui deslindam a certeza de que as pílulas azul e vermelha há muito foram dissolvidas no mercado cibernético da solidão. A consciência do trágico, porém, é viva matéria de rebeldia.

Clarissa Macedo

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