Entrei neste livro pronto para brincar. É assim que eu entro em todo livro. Eis o jogo. Pular página como quem pula corda. Saltar de um verso a outro. Para a próxima rua. No meio do caminho uma lua.
André Gravatá faz tempo que perambula. Abre voos. Estende as asas sobre os prédios. Construídos pelas mãos do pai pedreiro. Do nordestino trabalhador. O filho criador/sonhador hoje é uma das vozes mais originais de nossa poesia.
Como me emocionou vê-lo aqui, neste novo O sonho caminha pelo corpo, brincar de esconde-esconde. Contar até dez de volta à infância. Reconhecer o que é dor. E o que é flor de espinho. O sentimento se misturando. Observem como as palavras do poeta – no chão/corpo
da rua/página – seguem transitando.
Letra por letra vão se formando esquinas em uma singular arquitetura. Literatura entre a pedra e a perda. Cimento e sentimento. Abstrato e concreto. Nós, leitores e leitoras, nos tornamos pedestres flanando por andaimes/andares de uma cidade. Vemos do alto. Nas nuvens. Por debaixo. Longe e perto. Nosso olhar cheio de pensamento. Na ordenação cósmica de todos os rastros. Alinhados pelo autor em três atos. Em uma espécie de peça lírica encenada – por nós todos e todas – a céu aberto.
Saí deste livro mobilizado. E emocionado. Renovado para seguir em frente. Sabendo sempre do passado que me espera. Sobre minha cabeça o sol, feito um sonho, fazia festa.
Gratidão demais pela viagem e companhia, amado poeta.
Marcelino Freire