[Livro em pré-venda – envio a partir de 19 de dezembro]
Apesar do notável avanço das ciências ao longo dos últimos séculos, a limitação de nossa compreensão da natureza se reflete na equivocada relação de exploração e uso desenfreado do que se costumou denominar recursos naturais. Esse equívoco se revelou em especial nas últimas décadas com a real possibilidade de exaustão desses recursos e consequente auto extinção de nossa espécie. Esse cenário pré apocalíptico não pode, entretanto, nos paralisar (principalmente a nós, homens e mulheres das ciências), nem impedir que busquemos uma relação alternativa com nosso planeta. Para tanto é necessário sobretudo revisar e corrigir nossa concepção de natureza. Dentre todas as ciências construídas ao longo dos séculos de história da cultura humana, é a filosofia que melhor oferece a oportunidade para esta revisão. Não apenas por constituir-se como pensamento crítico e autocrítico, mas principalmente por incluir, desde seu início histórico, diferentes perspectivas sobre o que seja a natureza, considerando também que a filosofia sempre se faz a partir de sua história.
Neste livro, que tenho o prazer de apresentar e cuja elaboração acompanhei de perto, é possível testemunhar o esforço exemplar de Samarone Marinho para ressignificar o conceito de natureza a partir de duas concepções historicamente muito próximas e aparentemente contrárias. De um lado, o jovem filósofo da natureza Friedrich Schelling (1775-1859), empenhado em combater a física mecanicista ainda vigente em sua época e promover uma nova doutrina da natureza denominada por ele de física especulativa. De outro lado, o naturalista Alexander von Humboldt (1769-1859), famoso por suas viagens de investigação da natureza com base em diferentes ciências empíricas, como geologia, botânica, zoologia, climatologia, física e química.
Neste trabalho, elaborado inicialmente como tese de doutoramento em filosofia, Samarone busca demonstrar que essa aparente contrariedade entre a prática investigativa do naturalista e a teoria especulativa do filósofo se resolve com uma concepção comum de natureza como um grande organismo vivo. Para Schelling a ideia de natureza não é concebida por uma subjetividade que se encontra fora dela, seja como mente humana ou como verbo divino, mas sim, no interior da própria natureza, como seu próprio processo de autoformação e produtividade infinita. Para Humboldt a natureza se constrói como uma teia infinita que conecta os seres vivos particulares com o grande organismo da Terra, através de suas interações físicas, químicas, biológicas e climáticas. Ambos buscam, a seu modo, superar a dicotomia entre espírito e natureza.
Márcia Gonçalves


A máquina de escrita (de) Chico Buarque 
