Em seu livro de estreia, Édipo Ferreira lida com os versos como se o necrotério fosse a fonte dos seus poemas. Caminhar entre os mortos, chorar por eles. Invisível, mesclar a pele como um fantasma. A cada segundo os hospitais preenchem obituários e, por ínfimos milésimos de segundos, a quantidade de mortos dispara à frente do choro de um bebê em alguma parte do planeta. O livro Ossário endurece o leitor assim, como um corpo que vai calcificando os ossos. Enquanto as guerras matam centenas e estranhos cavam as covas de desconhecidos, o poeta enterra o seu morto. Tomamos consciência de um corpo que não tem mais corpo, mas ainda tem voz, sabor, língua em estado de putrefação.
Nesta obra, o autor nos convoca a um mundo no qual somos ensinados a relegar. Viver o luto como uma manifestação daquilo que ainda germina. Sendo que, a cada página, as referências a partir das quais o autor escreveu o livro se concretizam na mais complexa função cerebral do organismo humano: a memória. Em alguma lápide, retornaremos, nesse desejo de materializar a História.


O morse desse corpo
A trincheira dos trabalhadores
O mais sutil é a queda
O fim do Brasil
1922
Poesia reunida
Cadernos de alguma poesia
Além do habitus
Como era fabuloso o meu francês!
Era preciso um caminho
Saúde mental e memória
Pedaço de mim
Judaísmo e cultura
Balaio
Pulvis
Dos artefatos e das margens
Ninguém bebe minério
Uma escola de luta
Leitura e formação do leitor
Literatura de mulherzinha
Poemas para morder a parede
Quase música
A cidade inexistente
Combatentes da paz
Desporto em vez de política no São Tomé e Príncipe
Sinais Trocados
Corpo em combate, cenas de uma vida
O amor e suas letras
O produtor como autor
Grito em praça vazia
Com Ferenczi 

