Nas palavras de José Eduardo Barros, Paul Celan escreve “no limite de sua língua materna, trazendo um ritmo que equivale a uma assinatura”.
Barros, autor desta interessante obra que reúne e analisa a troca de cartas entre Celan e sua esposa Gisèle Celan-Lestrange, destaca diversos aspectos presentes nas correspondências: o envio de poemas recém-escritos, a tensão entre o amor do casal e a melancolia do poeta, a questão do luto, a troca íntima que flutua entre ternura e conflito. Em resumo, um diálogo que tudo acolhe e não se interrompe.
Mas nas entrelinhas das cartas pode-se (sempre) ver além: há algo de poético na longa conversa do casal, neologismos da “língua franco-celaniana”, a forte relação entre vida e escrita expressa por Celan. As referências à criação literária e à prática da escrita também são constantes e durante a leitura é possível perceber a “construção poética do autor como uma fábrica em funcionamento.”
Paul Celan e Gisèle Celan-Lestrange: uma correspondência de amor e sombras revela a vida em comum do casal e reflete o real, o delírio, a identidade, a linguagem e muitos outros grandes temas da poesia celaniana.