Playtime é uma incursão ousada e fascinante pelos terrenos do realismo fantástico e do surrealismo, sem abrir mão de uma abordagem realista que dá às histórias uma espessura singular. Os seis contos que compõem a coletânea exploram temas, formas e linguagens com uma liberdade quase anárquica. Sebastião Albano conduz o leitor por paisagens ora oníricas, ora brutais, com personagens que transitam entre a profundidade e a bidimensionalidade de maneira provocativa.
Em “O ogó e a cabaça”, a narrativa transforma a vida dupla de um jovem traficante de Brasília em um palco de estranhamento poético, enquanto “Associação de Esportes Radicais do Nordeste” brinca com o absurdo e o acúmulo, criando uma crônica delirante e tragicômica. Já “Universalismo comparado” é uma experiência psicodélica que funde camadas de realidade e ficção com toques de surrealismo.
Cada conto desafia as expectativas e abraça o inesperado. O experimentalismo linguístico de Albano é uma marca registrada, evidenciada em trechos que combinam a erudição de referências literárias, cinematográficas e culturais com o coloquial, o técnico e o inventivo. Essa justaposição não apenas intriga, mas também exige uma leitura atenta e aberta às múltiplas interpretações.
O título, inspirado no espírito lúdico e subversivo do filme homônimo de Jacques Tati, não é apenas uma homenagem, mas também uma declaração de intenções: esta é uma obra que brinca com o tempo, o espaço e a própria lógica da narrativa. Albano transforma a leitura em uma experiência sensorial, desafiando o leitor a abandonar as amarras da linearidade e abraçar o inesperado.
Seja no caos vertiginoso de “Css”, na profundidade reflexiva de “Autópsia plus anatomia”, ou no humor peculiar de “Simétricos, furtivos, exemplares”, Playtime consolida Sebastião Albano como um escritor que sabe ser, ao mesmo tempo, irreverente e profundo, provocador e instigante. Uma leitura imperdível para quem busca literatura como arte em estado puro, um campo de jogo onde regras são feitas para serem subvertidas.


Vento, vigília
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O mais sutil é a queda 

