Por que as árvores não fogem do bosque no incêndio?

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ISBN: 9786559057863 REF: 9786559057863 Categoria:

O mar nunca deixou de marcar presença na poesia publicada até aqui por Eric Pestre. Ora em dimensão cósmica, como no livro Trama, onde se lê que “As estrelas se deitam / na superfície do oceano”; ora como dimensão obsessiva do pensamento: “Não há um só dia em que / passe sem sentir o sal / das águas do mar”, como diz o poema “Afogado”, de Sapatos de culpa, livro escrito com as linhas do encontro e do desencontro amoroso; ora como motor mesmo da criação:  em Campo de pouso, livro das perdas, está inscrita a sentença “o oceano / que me enche os ouvidos, afunila os olhos / e me faz escrever.”

Mas o que ocorre agora em Por que as árvores não fogem do bosque no incêndio?, ponto alto de uma poética consistente que há tempos vem sendo elaborada num nível de qualidade e contundência impressionantes, lembra, por sua abrangência, aquele “sentimento oceânico” de que falava Romain Rolland em carta a Freud.

Sua primeira parte, a mais extensa do livro, se subdivide em outras quatro partes, todas chamadas “Mar de outono”! Na primeira delas, um menino, Telêmaco, nos é apresentado como uma espécie de ponto cego dos ciclos e ritmos (das estações, das águas, da vida) sem que saibamos se será nosso guia na viagem, ou ao contrário, motivo de nossa busca. Um poema talvez dê a pista: “Era preciso reescrever com água clara / a infância – daquele pequeno eu que arrastamos / por uma corda presa ao tornozelo”.

Sendo impossível, no espaço de uma curta apresentação, tocar em todos os muitos aspectos do livro, chamo a atenção para as figurações do náufrago e do acrobata, belíssimas, que, em sua dialética de queda e equilíbrio, vão justapondo camadas de sentido a esse menino que é Telêmaco, mas é também o Rimbaud do “Barco bêbado”, em especial da estrofe “Da Europa a água que eu quero é só o charco / Negro e gelado onde, ao crepúsculo violeta,/ Um menino tristonho arremesse o seu barco / trêmulo como a asa de uma borboleta”, que de certa forma ecoa e amplia o sentido dos versos de Pestre: “Inventar o mar com vaguidão, fazer dobras / sobre os nossos barquinhos de papel / que balançam na mesma cadência / das pernas do menino sentado à ponte”. E é Alejandra Pizarnik, especialmente convocada como irmã em navegações interiores.

E para as nuances de florescimento e devastação, estaticidade e fuga, presentes no título, Por que as árvores não fogem do bosque no incêndio?, que, perfeito, nos prepara para as tantas tensões em superfície flutuante que os poemas de Eric Pestre, dos mais concretos, como o definitivo poema de abertura, aos mais fantasmáticos, nos proporcionam.

Carlito Azevedo

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