[Livro em pré-venda – envio a partir de 6 de novembro]
Desde o título, Primevo, que nomeia o livro, há uma sugestão dupla: o primitivo e a primavera, no sentido etimológico de primeira idade. Pode-se dizer que o livro fala poeticamente das lembranças e sensações primeiras. Primevo lança mão de um repertório de imagens único, em cuja pujança se irradia uma origem tocada pelo território primitivo da poesia. Atualiza as raízes arcaicas da lírica por vias da dicção contemporânea de um sujeito poético que pressente a falta e deseja a criação, apesar de sua pobre dimensão salvadora: “o crepúsculo já se anuncia/ e a dor dói em mim/ as letras não me salvam/ Não haverá leitor para essa dor/eu própria não sou senhora dela”. No livro de Ana Maria Agra, há uma elaboração lírica que prepara uma convivência íntima, próxima, que desfaz as distâncias das paisagens e suas tópicas antigas – “entre o agreste nordestino e as margens do Nilo – distância nenhuma”. O livro cresce à medida que perfaz sua rede de poemas e dá sangue a seu coração – aliás, órgão e signo enfaticamente convocado – de palavras: as imagens da solidão e ausência, a paisagem admirada que se elabora na infância, a pequenez da vida humana frente à incomensurabilidade milagrosa do amor, a metamorfose animal, a confusão de vozes internas, o corpo da poeta e o próprio fazer poético.
O livro inventa rumos para uma tradição que aposta no cotidiano e na sensibilidade para um enriquecimento dos materiais temáticos da poesia brasileira contemporânea: “o coração não indaga o caminho/ segue rápido/ chega a terras áridas/desbrava o primevo”.
Pedro Couto



