Na prosa do poeta, Guilherme Zarvos faz o leitor suar. Não é o tipo de suor que escorre depois de arrebentar o rosto de algum moleque numa rua encardida, mas sim como se fosse possível suar antes mesmo da primeira porrada. Não é que a porrada não vá acontecer, mas acontece que a tensão do golpe antes do golpe faz correr eletricidade. Um corpo elétrico. Como é possível eletrificar os músculos sem nenhuma voltagem plugada na carne?
Entre as várias histórias que são contadas numa escrita compulsiva e feroz, Zarvoleta – como é chamado entre os íntimos – santifica e maltrata os gênios, escancarando a feiura e a beleza dos personagens aos quais somos apresentados. Iago é medíocre, Y nem tanto, Virgulino faz seu nome entre a fluição de um verbo e outro. Nesse sentido, é possível perceber a influência beatnik cavalgando nos mistérios dos sonhos e dos sexos. O eu-lírico se encontra com o diabo, mas faz pouco caso, porque a festa acontece. O caos é a libido da poesia. Dançar na Penha com o som estalando os ossos, porque nesse tempo em que estamos vivos, os fora do eixo estão empinando as motos em alguma viela do Rio de Janeiro.
Aqui tem história para os amantes virtuais que celebram o desejo nas madrugadas insones, para os que estão internados em algum hospital psiquiátrico e para os que têm hérnia inguinal. Tem também o autor dizendo de onde vem e fazendo mistério para onde vai. Ler a História que os covardes não insistem em lembrar. Agora que estamos aqui, e existem esses dois malditos dentes entupindo o ralo, faz o seguinte: deixa salgar essa pele dourada.
[Valeska Torres]


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