Poesia é uma questão em nossos dias; não propriamente uma questão que incomode as pessoas — ou, melhor dizendo, é uma questão, e que incomoda algumas pessoas, pessoas que saibam a importância da linguagem na vida.
Nesse caso, um circuito de banalidades antiquadas ou de espetaculosas ninharias costuma hoje dominar o espaço daquela arte. Raras vezes, como aqui, neste Tudo o que vem sendo adiado, de Lúcia Leão, a poesia é ao mesmo tempo de notável legibilidade e de invenção constante em inesperados cortes de verso, em imagens audaciosas e na materialidade plástica da linguagem.
Compondo o percurso que situa uma vida desdobrada em duas, dois lugares, duas línguas, duas culturas (mas sem o apelo fácil e frágil dos biografismos), a experiência se abre para um sentido de diferença que não age — como a nossa triste época — pela divisão, nem por uma ingenuidade aditiva: são movimentos de ir e vir, de adesão e de afastamento, por vezes úmidos de paixão acolhedora, por vezes cítricos de ironia crítica.
Por isso, também, é um livro necessário em dois princípios: o de uma linguagem muitíssimo sofisticada, que aprimora nossos sentidos e inteligência, e, ao mesmo tempo, o da abordagem da experiência viva com simultâneos e porosos distanciamento e proximidade, ensinando-nos a ver com mais cuidado, a saborear com melhor paladar, e mesmo viver uma dor com elegância.
Não hesitaria em afirmar que este livro se aprecia junto de toda a tradição de uma escrita espessa na força do que diz e de leveza graciosa em como o faz (a exemplo de Emily Dickinson, Konstantinos Kaváfis, Wisława Szymborska). Há um importante cultivo na arte do dizer, que se tem o prazer de aprender nestes poemas tão vividos e, igualmente, tão bem inventados.
Dirceu Villa


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