Como retratar um mundo cuja existência é marcada pela falta de sentido, como se estivéssemos largados à própria sorte, sem uma Pasárgada na qual pudéssemos nos abrigar?
Em Ainda que tarde, Vera Maia se propõe a este desafio enquanto leva o leitor a experienciar tal sensação de dissonância com o mundo ao redor.
A percepção de que paulatinamente as rasteiras do destino vão subtraindo a lógica do mundo irrompe com força em seus contos e poemas, sustentados pela potência de uma escrita madura, bem estruturada, direcionada a revelar personagens que se deparam com abandono, derrota, delírio e dor.
Mas não esperem melodrama!
O olhar oblíquo com que Vera Maia estrutura esse universo é permeado de humor ácido, impiedoso.
Nas situações em que prevalecem regras de moralidade, preconceitos e convenções vazias, a autora interfere de modo hábil, construindo uma espécie de ópera-bufa, denunciando as farsas ou, por vezes, recorrendo a pequenas transgressões e enganos que contribuem para que a leitura ganhe o sempre bem-vindo tom divertido.
Em outros momentos, ela ardilosamente prefere assumir o viés fantástico ou o espectro surreal, completando a escala de recursos convenientes para proporcionar ao leitor alívio perfeito para que ele possa se envolver logo em seguida com histórias nas quais a tensão foge ao controle das personagens, fazendo emergir a revolta e a vingança, ingredientes que deflagram o desatino e a loucura, resultando em extrema densidade ao corpo da narrativa.
Jogando com tais habilidades, Vera Maia brinda ao leitor com o poema Enigma, texto definitivo que sintetiza o espírito da obra: a vida é sem sentido, sem lógica, sem solução.
Claudia Chigres


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