A lira de Manuel Bandeira tem muitas cordas de que inúmeras notas foram extraídas, em diferentes timbres, resultando nas mais distintas ordenações. O poeta explora um conjunto amplo de temas, procedimentos, técnicas e formas com grande mestria, construindo uma obra diversificada e de primeira grandeza que, reconhecidamente, figura entre as mais importantes de toda a literatura em língua portuguesa.
O objetivo principal deste livro é enfatizar os impasses, os becos, as tensões, a negatividade, essenciais à constituição da lírica de Bandeira sem, para isso, deixar de considerar os momentos de alumbramento e de descoberta do sublime em meio ao cotidiano amorfo, numa tentativa de não fugir às ambivalências pela tentação de afirmar alguma unidade profunda, sempre problemática e fraturada, expressa mais nas tensões e contradições do que em algum princípio totalizador.
Explorar as tensões da produção bandeiriana não é, de qualquer forma, algo novo; os leitores de Bandeira não cessaram de apontar para elas desde cedo. O que se pretende, portanto, não é a defesa de uma perspectiva pretensamente nova, mas a discussão de um aspecto da obra de Bandeira que tem sido pouco explorado, bem como a busca da confrontação de perspectivas que se encontram em textos que estão, atualmente, esparsos e que, por isso, ficaram relativamente relegados a um segundo plano não ordenador dos estudos que se têm dedicado à poesia de Manuel Bandeira.
Tais ênfases não visam à construção de um sistema explicativo: não é a sistematização o que se procura, mas o reconhecimento das arestas de uma obra que, a partir de certo momento de sua recepção, tornou-se excessivamente afável, delicada e conciliada. Daí, inclusive, a feição ensaística dos capítulos deste livro, que podem ser lidos em sequência, o que permite observar o arco de discussões que acabamos de mencionar, ou separadamente, na medida em que se dedicam a análises de poemas específicos ou a um aspecto do conjunto.


Pulvis
Estrada do Excelsior
Todo abismo é navegável a barquinhos de papel
Pedaço de mim
A memória é uma boneca russa
Nas frestas das fendas
Poesia reunida
Da capo al fine
O menor amor do mundo
Danação
O tempo amansa / a gente
O fim do Brasil
Linhagens performáticas na literatura brasileira contemporânea
Regra e exceção
O desejo de esquecer
Ave, Rosa!
Além do visível
Tradução, arquivos, políticas
Poesia pode ser que seja fazer outro mundo
Camilo Castelo Branco e Machado de Assis em diálogo
Falemos de poesia
A gaia ciência de James Joyce
Caminhos do hispanismo 

