Aquém das Retinas, primeiro livro de Mauricio Matos, frequenta célebres autores da literatura portuguesa: Camões, Jorge de Sena e Gastão Cruz são alguns poetas que servem diálogos intertextuais e colaboram para formar esta obra de apurado rigor construtivo. Os versos carregam notável dicção clássica: são bem medidos, de rimas engenhosas, com movimentos argumentativos que se firmam para chegar à perfeição. Mediante a limpidez formal, Mauricio acentua as palavras brandas e uma sintaxe de elegância inquestionável. Não há, contudo, um deslizar de lancha entre camélias: existe sim um deslizar de manchas – coisas terríveis – aquém, dentro na interioridade -, que são tensionadas às linhagens em branco. Essa tensão constrói o desconcerto do mundo, o desnível entre a forma e o conteúdo, que por sua vez traz ao leitor a modernidade de Cesário Verde, Augusto dos Anjos e (por que não?) Carlos Drummond de Andrade, três poetas também muito presentes, direta ou indiretamente, neste livro de estréia.