Em Clandestinas, Cida Sepulveda nos conduz por um labirinto de emoções intensas e situações extremas, onde a realidade do aborto é enfrentada sem rodeios, com a crueza que marca a escrita da autora. Cada conto é uma janela aberta para histórias reais, de mulheres cujos destinos são marcados por escolhas impossíveis e pela luta constante contra uma sociedade que silencia suas dores. Com uma linguagem enxuta e direta, sem meias palavras, Sepulveda mergulha na complexidade das relações humanas, abordando o sexo, a vida e a morte com um olhar atento e profundo sobre o que é muitas vezes mantido em segredo. As personagens aqui parecem mulheres reais, com histórias de vida que transbordam de sofrimento, resistência e coragem diante do peso de decisões que carregam para sempre.
Cada conto é um reflexo da brutalidade de um sistema que escolhe ignorar os gritos de socorro, e, ao mesmo tempo, oferece um espelho cruel da indiferença que reina no mundo em que vivemos. Cida Sepulveda, com sua prosa visceral, nos confronta com a dor e a delicadeza de ser mulher em um contexto que muitas vezes nega o direito de escolher. Clandestinas é um convite ao despertar de uma reflexão profunda sobre a vida, a morte e o que nos faz humanos. É uma obra impactante e corajosa, que nos leva além da leitura, a uma vivência extrema, sob o olhar do outro – dos outros, de outras –, por trás dos enredos que nos desafiam, nos envolvem e nos obrigam a encarar a realidade nua e crua da sociedade atual. Não é apenas um livro sobre aborto; é sobre a vida, em toda a sua complexidade e tragédia.


Ciclopes e medusas 

