Magalí Etchebarne publicou seu primeiro livro, Los mejores días, de contos, em 2017, e voltou a esse gênero recentemente, em La vida por delante. Entre os dois, este livro de poemas que agora traduzimos, sua publicação de estreia no Brasil. “Vou escrever poemas com a forma compacta/ e abraçada de um parágrafo./ Mas se não sair…/ o que vai ficar?” Esses versos condensam algo essencial sobre o sentido destas páginas: Magalí se lança ao poema como por necessidade, decidida a escrever nessa nova forma os lutos, próximos, pela morte de uma mãe e de um pai, e a sobrevivência ao lado de uma irmã.
Não é pouco o que precisa ser reinventado diante da perda – o que fazer com a escrita; ou com os pássaros que o pai criava e que as filhas herdaram. A poesia se torna um caderno de receitas em que se guarda (como aqueles recortes de revistas e jornais colados ali para depois) o que sobrou de uma vida em comum, sem saber direito ainda o que dará para fazer com isso, para além da dor.
Como cozinhar um lobo acontece enquanto esse futuro ainda não chegou, quando pulsa algo difícil de colocar em palavras: “a vida que insiste”. Este livro
é sobre aprender a ser filha e irmã diante de uma ausência vivida dia a dia, nos detalhes dos gestos, objetos, perguntas: “Sou vocês?” É sobre a possibilidade de tornar poema
o mistério do que sobrevive.