Ao ler este livro, você vai se deparar com afirmações de Lenio que também vão se tornar afirmações suas. Com uma escrita que dessacraliza a poesia e estabelece diálogo direto com seus leitores, é impossível não se deixar cativar pelos poemas dele.
Em Coração de polichinelo, o poeta, que transita entre a ironia rasgada e a ternura pungente, deixa bem claro qual o seu projeto poético. Este livro é uma carta de intenções:
escrever é
osso
e carne,
quando sorte
Aqui, para nossa sorte, Lenio coloca a sua própria carne, o seu corpo, em evidência. Próstata, pau, lábios, ele compartilha sua nudez e parece nos convocar para uma autoconsciência da nossa própria, sem grandes pudores, rejeitando uma normatividade assética: odeio sua indisposição ao vulgar.
Lenio não tem medo de soar como um poeta jovem, como alguém que vive o seu tempo, que faz parte dele e o escreve. Posso afirmar que este livro é uma espécie de etnografia geracional. Sem soar pretensioso, ele expõe o que é um jovem tuiteiro bissexual irônico pós-moderno. E mesmo que você não faça parte desse seleto grupo, talvez, ao lê-lo, queira fazer.
Seus poemas evocam imagens e vocabulários que ecoam não apenas num nicho geracional, claro. O poeta nos convida a experienciar a sentir o que há de mais perigoso e gostoso no mundo. As dores e delícias de produzir e consumir arte no capitalismo tardio.
todos os poetas clássicos já morreram/ ufa e Lenio traz um frescor na sua poesia que eu, sinceramente, não lia há algum tempo. Ler Coração de polichinelo me deu vontade de pegar meu caderno e começar a escrever. Enquanto poeta, não faço cerimônia ao dizer que esse é o maior elogio que eu poderia fazer.
Se você me permite, faço uma sugestão: leia Coração de polichinelo com calma. Deguste. Coloque música para tocar no fundo. Leia os poemas em voz alta. Leve o livro para passear pela sua cidade junto com você.
Mila Teixeira