A palavra contradição certamente é comum na clínica psicanalítica. Disso, não resta dúvidas. Ela, contudo, é também comum quando resolvemos contar a história da psicanálise. Ou, pelo menos, deveria. Afinal, a psicanálise longe de ser um lugar linear, é um território de disputa. Sublinho aqui a palavra território. O presente livro é sobre o território chamado Brasil. Um território cuja divisão é marcada pelas capitanias hereditárias é o terreno onde se desenvolve uma discussão concisa e certeira sobre como se pode se tornar herdeiro de uma psicanálise marcadamente europeia. O primeiro passo da presente obra foi discutir nos textos de Freud a noção de herança. Com efeito, quando a discussão passa a ganhar corpo no Brasil não podemos contorna aquilo que constitui o nosso país: o legado da escravidão.
É nessa perspectiva, que É de raça que estamos falando introduz um debate sobre as apropriações da psicanálise no Brasil naquilo que elas guardam de contraditório, diverso e politicamente conflitante. Aliás, como assevera o livro: a psicanálise é política. Por isso, a decisão de percorrer o início da psicanálise no Brasil pelo recorte histórico dos debates sobre raça é iluminadora para mostrar como na história da psicanálise brasileira temos psicanalistas com diferentes heranças. Por um lado, temos aqueles e aquelas contribuíram para projetos higienista e com a própria ditadura militar e que, por outro, temos psicanalistas que estavam na proa das grandes mudanças com as primeiras clínicas de rua e com a denúncia de torturadores e do próprio fascismo no modo de operar de algumas instituições de psicanálise.
Se a história da psicanálise no Brasil tem seus caminhos diversos, é preciso que a gente aprenda, com as encruzilhadas, fugir dos caminhos das determinações e cativeiros impostos pela colonialidade. O final do presente livro é um convite a sermos mais críticos de nossa história e dialogar com aquilo que foi excluído pela marcha até então irrefreável da colonização.
Érico Andrade


Eu, Jeremias
Da capo al fine
Quando formos doces
O tempo amansa / a gente
Nas frestas das fendas
Poesia pode ser que seja fazer outro mundo
Poemas para morder a parede
"Santo forte" visto por
Outro (& outras)
O produtor como autor
O animal do tempo / A inquietude
A memória é uma boneca russa
Pirandello presente
Sophia: singular plural
A tradição viva em cena
"Babilônia 2000" visto por
A paixão mortal de Paulo
Desarquivando o literário Vol. 1
A herdeira [Washington Square]
Estou viva
"Jogo de cena" visto por
Placenta: estudos
No domínio de Suã
Pulvis
A história dos seios (2a edição)
Corpo, substância gozante? 

