Em Matriarca cidade, Dalgo Silva ergue uma arquitetura feita de carne, memória e afetos insurgentes. Neste livro, a cidade não é apenas concreto e trânsito: ela pulsa em corpos que re-existem, em lavadeiras que botam a limpo o passado, em crianças que pulam no mar e nadam em açudes, em amizades que se costuram no sal da vida. Aqui, a poesia é tecnologia de sobrevivência e de reencantamento: um modo de plantar outra cidade — aquela que acolhe, protege e dá de comer.
Nas três partes que compõem o livro, Dalgo constroi uma cartografia contracolonial em que o que é tido como frágil não é ruína a ser esquecida, mas semente para um futuro. A cidade nasce e renasce a partir dos quintais de voinha, dos mangues-mãe, das brincadeiras de rua e das casas plantadas por agricultoras de mundos, gestando um originariarcado. Nessa geografia, a oralitura é reinaugurada como instrumento de conhecimento: as vozes de mulheres, as histórias pescadas nas margens, os afetos que desafiam a aridez da civilização moderna. É com eles que latinhas de carregar água, cadeiras de plástico, copos americanos que são brasileiros, bacias, dominós, ossinhos miúdos, frutas e boas histórias boiam como oferenda no mar da memória dessa Matriarca.
A cada poema, o eu-lírico provoca: outra cidade é possível, uma cidade feita de plantas, rios, bixas pintosas, travas destravadas, filhos da terra, mães que também são filhas? Uma cidade que sabe que as verdadeiras fundações não são o concreto e o ferro, mas a ternura compartilhada, a vulnerabilidade abraçada, a luta constante pelo direito de bem viver?
Dalgo Silva, com sua escrita amorosamente enraizada e insurgente, oferece uma poesia que é também gesto político e canto de cura. Matriarca cidade é convite, travessia e manifesto: uma cidade inteira para ser amada, reerguida e semeada.


O morse desse corpo
Três faltas e você será foracluído [...]
Beco da vida
Antologia poética
Estou viva
Linhagens performáticas na literatura brasileira contemporânea
No horizonte do provisório
Vigário Geral
O sol se põe em meu corpo
Narrativas e história
Tempo e subjetividades
Oceano
Trabalhar cansa
Singularidade e subjetivação
Fluorescentes
Corpos cegos
Destempo
Numa nada dada situação 

