Em seu novo livro, Piero Eyben expande os horizontes poéticos, aliando uma aparente simplicidade no discurso – que fala da vida, do amor, do nosso tempo, de cenas cotidianas, quase como numa conversa – a uma extrema sofisticação que se revela aos poucos em uma ou outra referência – que pode ser literária, musical ou filosófica, ampliando as camadas de leitura com extrema naturalidade. E pode falar de gatos ou de cavalos, de frutas, de plástico-bolha, ou de uma edição de Baudelaire, assim como nos traz a lembrança da infância junto com a experiência da paternidade (via de mão dupla, costurando pontes entre as gerações), ou é capaz de fazer um poema “sem verso” dizendo apenas: “essa noite não vou te escrever um poema / queria mesmo era encher tua boca de beijo / sentir um suor de gesto rasgado fulano me disse / que a distância não faz bem pra pele / […]”
Nas palavras de Alberto Pucheu, “Me faz um corre aí incorpora um elemento surpreendente para quem acompanha a trajetória do poeta: o uso da coloquialidade. Em um poeta como este, para quem a densidade e complexidade do pensamento estão sempre colocadas, não se trata evidentemente de uma subserviência ao coloquial, mas de uma apropriação dele. No título, o próprio “corre” desliza de verbo à gíria em um substantivo inesperado, deslizando, ainda, para “correntes”, “socorrem”, “correio”, “escorre”, “corredor” (da casa), “percorrer” e “correta”. Correm muitos assuntos e questões pelo livro, que reforça uma das marcas do que Piero vem fazendo, juntando poesia, cotidianidade, afeto, política, filosofia, autobiografia, o Brasil atual e a pandemia em excelentes poemas de fôlegos extremados. Nesses, trata-se de a poesia assegurar o “rastro essa ausência insistente” quando o “poder de comando” impõe apenas “o rastreamento geolocalizado”, o controle, a biopolítica, a necrocracia. E isso que essa poesia tem feito nos oferece uma outra vida, um outro país.”
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