[Livro em pré-venda – envio a partir de 16 de novembro]
Laura Pugno nos oferece um exercício de ficção especulativa, na direção das propostas de Donna Haraway para Ficar com o problema em meio à crise do Antropoceno e das ideias de Ursula K. Le Guin da necessidade de uma nova teoria da ficção, de formas de narrar não lineares para contar a história da vida em sua diversidade. Na proposta de Pugno, as palavras se fundem, tatuadas, nas pessoas, e gravam-se também em línguas não humanas na diversidade das formas de vida que restam. Essas palavras formam textos em movimento, perecíveis, mutáveis, evocados (entre eles destaca O último dos moicanos, de James Cooper), que constituem o alicerce plural de um livro que ensaia múltiplas direções para o pensamento em alerta. Aqui se reúnem fragmentos de livros, rastros, citações de cientistas e poetas, como se fossem quipus, isto é, conjuntos de nós que guardam informação e sentido, aos quais a nova leitura (anacrônica, imprevista) confere clarividência. Um desejo apaixonado guia a reflexão: pensar o limite, pensar até o além, como na poesia, para superar as fronteiras do nosso mundo em desaparição, nós sem mundo: “encontrar um modo para pensar num outro modo como viver. Alguma coisa que ainda não tenha sido pensada. Pode fazer isso a poesia? Pode fazer isso a literatura?”
Por isso a linguagem é ao mesmo tempo evocadora e precisa, capaz de convocar vidas e leituras, mas também de descrever o desassossego da crise capitalista e colonial que nos alcança, a fractalização do fim (em palavras de Débora Danowski e Eduardo Viveiros de Castro, pois as leituras do Brasil também estão muito presentes aqui). A tradução de Patricia Peterle recria esses movimentos em português, em um gesto cúmplice que acompanha Laura, tecendo formas de relação, localizando as referências e instigando as nossas pesquisas. É este um livro de livros, um palimpsesto de histórias e referências, um livro de vozes, que incitam à transformação e à criação de formas de vida mais conscientes e justas.
Meritxell Hernando Marsal


Estou viva
O vento gira em torno de si 