Quem já teve oportunidade de ler os romances históricos Vieira na Ilha do Maranhão e Balaiada irá se sentir em casa desde as primeira páginas de O ano da revolta dos desvalidos. Ainda que seja uma obra independente, o novo livro de Ronaldo Costa Fernandes traz o mesmo apuro com a língua e com a reconstrução de época já presente em seus outros romances, envolvendo o leitor numa trama de ficção com muitos elementos da realidade e da formação do povo maranhense.
Aqui ele retoma o cenário de São Luís, no ano da revolta popular promovida na cidade por Manuel Bequimão em 1685. Participante do conflito, envolvido com os revolucionários, José Quirino luta também contra a sublevação dos seus instintos e a insanidade. Sua filha Maria, uma bela jovem, madura de corpo mas indelicada de alma, se apaixona por Abelardo – filho de outro comerciante como Quirino – e os pais se negam a autorizar o matrimônio entre os dois filhos, que vivem em minoridade mental. Maria e Abelardo fogem para as matas e nunca mais são encontrados.
José, que havia sido seminarista em Lisboa, internando-se numa congregação para fugir do mal que acometia a família dos Quirinos na zona rural de Aveiro, teme pela sua saúde mental em meio às grandes revoltas do colono Bequimão, que se insurge contra a Coroa. Agora no Maranhão, José não apenas tem medo
da represália das forças e milícias que o novo governador empossado imprime em sua rápida e cruel perseguição aos revoltosos, mas também luta para curar-se da revolta interna que o domina, julga e condena. A culpa por não ter permitido que os dois desvalidos se casassem e morassem em sua casa transforma a vida de Quirino, que se afunda num estado melancólico e de conflito interior.
Com uma narrativa rica e envolvente, Ronaldo Costa Fernandes nos conduz por um período turbulento da história do Brasil, onde a luta pela liberdade se entrelaça com os dramas pessoais e os dilemas existenciais de seus personagens.