Entre lembranças e ausências, entre notícias e distâncias, o poeta vê o mundo com um olhar muito próprio: com fúria e ímpeto e o sol preso às costas, reconstrói uma infância perto do mar, observa o cotidiano como cena de guerra, carrega o próprio corpo como única bagagem e apaga a noite para virar o sonho de um gato. Os recortes do calendário gregoriano contam os meses nos ossos das mãos, como se ali coubesse o tempo, entre os altos e baixos da existência. Fábio Rabelo Rodrigues nos apresenta O som canhestro com a destreza de um artista atento às ironias e descompassos do mundo que nos rodeia, que não se furta a falar do horror e da fome mas também é capaz de trazer uma receita de pão de queijo como poema, como se a cura de toda a fome do mundo pudesse caber na voz do poeta, e por que não? – afinal é também no som e na fúria das palavras que se muda o mundo, a cada verso, a cada livro.


O assassinato da rosa
O mar que restou nos olhos
Pulvis
Estou viva
Poesia reunida
O menor amor do mundo
Numa nada dada situação
O tempo amansa / a gente 

