[Livro em pré-venda – envio a partir de 5 de novembro]
Nestas histórias breves, João Paulo Vaz se propõe a investigar a masculinidade para além das noções mais simplistas de dominação e violência. Essa investigação, no entanto, mal é percebida pela leitora ou pelo leitor enredado na prosa ágil e precisa do autor: as palavras estão todas a serviço de histórias que parecem nascidas para ser contadas, na simbiose entre forma e conteúdo que sempre caracterizou a boa ficção.
A seleção, feita pelo próprio Vaz, abarca de contos premiados não publicados em coletâneas próprias, como o contundente “Os meninos”, a inéditos igualmente impressionantes, como “A presença da onça” e “A grande caçada ao javali imperial”. Doses de ternura, surpresa e também de humor salpicam a antologia, acrescentando, à experiência de fruição, não raro um sorriso ao rosto de quem lê.
Os códigos masculinos, com suas tensões e solenidade, atravessam as 22 histórias, mesmo quando o que está em jogo – e jogo aqui não é uma palavra aleatória – é a formação de meninos rumo à inevitável solidão da maturidade. O olhar terno para as angústias dos personagens não significa condescendência: a violência está sempre prestes a despontar, explícita – ou mesmo sarcasticamente explícita como em “Rô-rô” – ou simbólica, em guerras tão sem sentido como são todas as guerras.
A mulher, para esse menino ou homem, muitas vezes é um ser mítico, idealizado. Um devir-mulher. Onça, boneca, guerrilheira, sua presença evidencia a fixidez e a limitação do modelo masculino. A promessa de que possa abalar essa estrutura de poder e fazer penetrar nela, afinal, a Vida, essa promessa se insinua mas não se cumpre. Como mostra o belíssimo “Os parques abandonados”, esse homem retorna à sua suposta liberdade, e sai rugindo a motocicleta pelas colinas.
Marta Barcellos



