No contexto social e político contemporâneo, o estudo de temáticas relacionadas ao esquecimento e seus paradoxos têm ganhado destaque, notadamente em termos de se compreender como certos eventos do passado ainda ressoam no presente.
Nesse cenário, a coletânea organizada por Icléia Thiesen e Fabrício J. N. da Silveira nos convida a refletir e a tensionar os esforços empreendidos para se “esquecer” os crimes cometidos pelo regime militar instaurado no Brasil em 1964 e como, ao invés do silêncio e do apagamento, essa não elaboração do nosso passado recente encorajou a realização de atos infames como os que vimos nos últimos anos: pessoas clamando por intervenção militar e a imposição de uma nova ditadura; a invasão dos prédios que representam os três Poderes da República e o equilíbrio das forças democráticas; a tentativa de um novo Golpe a fim de depor o presidente legitimamente eleito.
De modo convergente, cabe ressaltar a relevância dos textos aqui reunidos e a profundidade das interpretações de diferentes aspectos da nossa realidade atual, as quais foram estabelecidas a partir do diálogo entre a memória, a história e a informação. Esforço teórico-analítico que certamente nos ajudará a entender melhor como a luta contra o esquecimento constitui elemento chave para reivindicarmos o direito à memória e à reparação pós-ditadura militar, evento traumático que deixou marcas profundas e cicatrizes ainda hoje abertas.
Por tudo isso, os textos que você – leitor ou leitora – tem em mãos desenham um cenário propício para refletir, junto com os autores e autoras que deram corpo a esta obra, porque o passado não deve ser negligenciado e em que condições a memória, a história e a informação podem ser acionadas para confrontarmos os paradoxos do esquecimento que ainda assombram nosso presente.
Pablo Gomes