A poesia, em sua potência máxima, se torna memória, denúncia e resiliência.
É exatamente isso que Angélica Torres Lima nos entrega em Poemas de tError: uma obra que transcende o papel de simples registro literário para se tornar um grito contra o apagamento da história e uma reafirmação de resistência frente ao terror vivido e testemunhado no Brasil.
Dividido em quatro capítulos – Ruínas, Coronados, Duro Mundo e Error –, o livro é uma costura entre o individual e o coletivo, onde a autora transforma experiências traumáticas em versos que reverberam a dor, a denúncia e, em momentos sublimes, a ternura. Com uma linguagem que mistura o vigor da palavra combativa à delicadeza da observação poética, Angélica reconstrói a memória coletiva, desafiando o esquecimento e desmascarando as forças opressoras que tentam silenciar a verdade.
Nestes poemas, encontramos ecos de uma resistência corajosa que não se esconde atrás de metáforas evasivas. Pelo contrário, os versos de Angélica nomeiam os responsáveis pelo sofrimento, evocando situações e episódios que marcaram a história recente do país. Essa frontalidade se evidencia em trechos como o do impactante Poemanifesto: “em nome de malufs collors / sarneys e caiados / rorizes estevãos / torturadores militares / e os herdeiros das capitanias…”
Mas, para além da denúncia, o livro oferece ao leitor a possibilidade de reencontro com a esperança. Mesmo em meio ao caos, surge a ternura, como um fio que conecta os poemas à essência mais humana.
Em versos como os de Curta – “Jorginho, Jorginho / vem brincar comigo / sob o sol que abriu” –, Angélica nos relembra da necessidade de cultivar afetos em tempos de brutalidade.
Poemas de tError é um chamado à reflexão e à resistência, uma celebração do poder da palavra diante do inominável e um convite a enxergar, na poesia, um espaço de reconstrução e esperança.