Quase não dá para acreditar, mas todos nós fomos, há tempos, uma criança vendo pela primeira vez uma coisa no céu que alguém apontou e disse “lua”, uma coisa num galho que alguém apontou e disse “flor”, uma coisa que voava e alguém chamou “borboleta”, e aquilo se gravou no nosso aparelho hipersensível e assim fomos descobrindo, vertiginosamente, que o mundo grande do lado de fora, por mais que estivesse cheio de coisas, cada qual com sua textura, peso, luminosidade, forma, e modo de reagir ao nosso toque, cabia inteirinho, e para sempre, do lado de dentro da gente. Que há um infinito lá fora e um infinito cá dentro.
Que não só vivemos no mundo e vemos o mundo, nós pensamos o mundo, e experimentamos com o mundo. Quase não dá para acreditar, mas aconteceu.
O que Christina Autran nos oferece com este livro, em que acompanha, estuda, e principalmente se maravilha com a existência de sua neta Matilda, é a oportunidade e o prazer de observar, pela lente do poema, pela lente do amor, os flashes de linguagem, verbal e não verbal, emitidos por uma criança diante de um mundo que se descortina. Registros dos abalos sísmicos que são as descobertas diárias de algo novo: a existência da jaca, do cão, do beija-flor, da dor de dente, das próprias palavras, da água quentinha, do som do helicóptero, da fabulosa especificidade de cada coisa, irredutível.
Acresce que ao espanto da criança diante do mundo, já comparada, desde os gregos, ao espanto que todo filósofo deve manter diante de tudo, vem somar-se o espanto da avó maravilhada com as mil metamorfoses diárias de um corpo, de uma voz, de uma sensibilidade, de um vocabulário, de uma imaginação. E sendo esta avó uma poeta que jamais esquece a dimensão cósmica de nossa aventura na terra, e sendo cada verso uma espécie de sonda que lançamos ao espaço tanto quanto sobre a folha de papel em branco, este livro, uma das aventuras poéticas mais belas e instigantes de hoje, é também uma incessante indagação sobre a eternidade do momento e nossa finitude. Existirmos, a que será que se destina?
Carlito Azevedo


Eu, Jeremias
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