Ao interpelar uma amiga a respeito de seus quatro pares de sapatos, o Sr. Keuner, da obra de Bertold Brecht, recebe como resposta: “eu tenho quatro tipos de pés”.
Assim como nossos pés percorrem diversos caminhos e necessitam utilizar adequados pares de calçados, os poemas de Quatro pares de sapatos, ao esquadrinharem os cômodos da casa, as ruas, os campos e as veredas da memória, fazem uso de diferentes tipos de olhares. Nos “lugares comuns”, o cotidiano aparece com suas contradições — o calor insuportável do verão, as manias, as coleções de objetos inúteis, o homem-placa que atravessa a cidade. Em “amores mais que imperfeitos”, surgem os encontros e desencontros afetivos, ora ternos, ora irônicos, sempre expostos em sua precariedade e potência. Já no “imponderável mundo novo” surgem as redes sociais e a inteligência artificial, com toques de humor diante das engrenagens tecnológicas e das ilusões do progresso. Por fim, em “acidentes geográficos”, o leitor é conduzido a florestas, arquipélagos e travessias que também são paisagens da lembrança e da imaginação.
A poesia de Luiz Gustavo de Sá interroga, desvia, reinventa, combinando imagens, ritmos e associações inesperadas. Cada eixo do livro abre uma possibilidade de caminhar, seja pelo rastro do cotidiano, pela intensidade do amor, pelo descompasso da modernidade ou pelo assombro diante da natureza. O autor nos convida a seguir por esses caminhos múltiplos não em busca de um destino, mas da surpresa de cada passo, tanto através de terrenos acidentados quanto por jardins de puro lirismo. Depende para onde quisermos ir.


Nenhum nome onde morar
O estado das coisas
Cadernos de alguma poesia
Pedaço de mim
Narciso para matar
A fruta é doce, mas passou do ponto
A queda
No limite da palavra
A gaia ciência de James Joyce
O desejo de esquecer
Poesia reunida
O tempo amansa / a gente 

