Sei que ele pegou o tempo da perseguição, quando candomblé era proibido, condenado por médico e padre, tratado de crime pelas autoridades. Tanto no de Mãe Mariana quanto em outros abacás, ouvi dos mais velhos muitas histórias sobre as peripécias amargas desse anteontem. Na dita época, volta e meia a polícia invadia os terreiros, em missão de terror. Os soldados já chegavam quebrando tudo, batendo em homem, mulher e criança, injuriando velhos e moços; arrasavam pejis a pata de cavalo, quebravam quartinhas e alguidares, jogavam no lixo as oferendas, os remédios, os a preparos: um miserê! O que não destruíam, usavam nas procissões de galhofa: obrigavam iaôs e ebames a marchar pela ruia carregando na cabeça louças, otás e ferramentas de santo. Feitos e feitas seguiam assim para a delegacia, debaixo da vaia dos brancos, da molecada.


O morse desse corpo
Do poema nasce o poeta
Era preciso um caminho
Da capo al fine
Vento, vigília
Campos de Carvalho contra a Lógica
O autista e seus objetos
A desordem das inscrições 

