Este livro pulsa no entrelugar da palavra e da música – que não é mero tema, mas estrutura e respiração: há poemas em síncope, versos como compassos livres, variações tonais que desafiam a métrica e a gramática da previsibilidade. O título é mais que sugestão: é programa estético. Aqui, o silêncio é cheio de som – como ensinou John Cage –, o inaudível se torna vibrante, e o gesto poético, uma escuta.
Tânia Rêgo segue afinando sua lírica num campo de experimentações onde o corpo, a memória e o desejo formam acordes dissonantes, por vezes suaves, por vezes urgentes. Há poemas que tangem o lamento e a súplica, como “Oração”; outros que se embebem do cotidiano com as cores do absurdo; há ainda homenagens, fluxos, travessias, poemas como “células em cacho”, para usar uma de suas próprias imagens.
Este Silêncio musical tem algo de improviso jazzístico, de suíte barroca, de canção concreta – uma escrita que não se fecha num só estilo, mas avança em busca do que vibra e do que escapa. Seus poemas ecoam como notas que remetem a outras partituras, outras histórias, outras escutas.


Imperfeito
Umbigo
Metrô
Toda família tem uma
Sobre as árvores solitárias e os gritos que ecoam nas erosões
Todo abismo é navegável a barquinhos de papel
Sintaxe do amor
Nenhum nome onde morar
Ir, embora
Corvos contra a noite
Quieto
Pulvis 

