Só mesmo a arte para dar conta da matéria fluida e rarefeita do passado, da cicatriz, do trauma. Leila Danziger sabe explorar, em versos hábeis e precisos, as diversas possibilidades de dar corpo à memória e ao testemunho. Sua escrita percorre os rastros de um passado sempre presente – que se infiltra por entre os gestos e fatos mais cotidianos, que se impõe silenciosamente.
Fotografias, recortes e anotações parecem saltar destas páginas, imagens de imagens que se entrelaçam com palavras. Transparente e invisível, pleno de si mesmo – o tempo e sua memória são recortados nesses versos, ganhando textura, cor, fisionomia.
O resultado é uma poesia que reside no movimento contínuo de inscrição e apagamento, na fala que se ensaia a cada verso. E que nos toca, ao registrar o indizível em obra poética, em escritura.