Esse livro nos brinda com uma parte importante da reflexão de Moacir Palmeira. A publicação está situada em uma produtiva encruzilhada
entre uma maneira de ensinar; uma busca contínua de conjugação entre teoria e pesquisa de campo e, ainda, uma peculiar experiência de engajamento político a partir da produção de conhecimento crítico. Sendo assim, além de interessar diretamente a quem se dedica ao estudo das relações estruturais e das lutas sociais no campo ou aos temas da antropologia da política, certamente interessa para um público mais amplo de cientistas sociais.
O livro interessa para quem ministra cursos na pós-graduação na medida em que exibe uma “prática de ensino” desenvolvida por Moacir Palmeira que exige problematização de cada página do texto estudado, bem como estimula a comparação entre teorias produzidos em diferentes contextos históricos. Interessa também para quem faz pesquisa e é alertado a não se limitar às “questões teóricas obrigatórias” e a considerar que “problemas teóricos” devem ser acionados pela análise de situações concretas. E interessa ainda para quem está envolvido com assessorias, consultorias ou extensão universitária e deseja refletir mais sobre as relações entre a Universidade e os movimentos sociais, reconhecendo sempre as especificidades e complementariedade entre diferentes formas de produzir conhecimento.
Ou seja, os artigos reunidos nessa publicação não só resgatam a história do trabalho coletivo realizado sob a liderança de Moacir, mas também oferecem uma proposição sobre uma forma de trabalhar para produzir conhecimento crítico. Sendo assim, as análises de conjunturas e configurações sociais aqui reunidas não oferecem espaço para reificações, repetições acríticas e profetismos.
Ao contrário, nos convidam a prestar a atenção nas diferentes dimensões da questão estudada, considerando inclusive as exceções e os paradoxos que têm o efeito de complexificação da realidade que se quer conhecer. Com efeito, esse belo livro atende a um desejo antigo de muitos de nós que participamos de diferentes empreitadas coletivas coordenadas pelo Mestre, como costumamos chamá-lo. A partir de agora vai ficar mais fácil ler, divulgar e citar alguns textos que foram importantes em nossa trajetória de vida.
Em resumo, com os textos de Moacir e com os artigos dos colegas publicados nesse volume, o leitor está convidado a participar de um mutirão (teórico e prático) de aprendizado antropológico, bem como será desafiado a considerar mudanças sociais recentes que hoje estão a exigir novas perguntas para pensar a conjugação entre ensino/pesquisa/extensão universitária considerando a experiência da nova geração dedicada à Antropologia. Como já disse Moacir Palmeira, é preciso atentar para “a construção de novas variantes e a abertura de novos caminhos sem as quais a teoria não vive”.
Regina Célia Reyes Novaes