O que fazer com o nó do que não se traduz (exceto pelo que está muito além do alcance das palavras)? Pouca gente sabe a resposta: é preciso inventá-la, e talvez para isso existam os poetas. São eles os verdadeiros cosmonautas, aqueles que exploram, descobrem e revelam novos mundos. Que trazem na ponta da língua (muitas línguas) o sabor do inesperado, que sabem ler (unir) os pontos de cada cena (um quintal, um exílio, uma luz de uísque) para formar a partitura de uma melodia inédita – a mesma que ecoa no canto de um pássaro estrangeiro ou no fundo da página de um livro (“como as pintas pelo seu corpo”), e que aqui se revela aos poucos, música sutil e silenciosa: pequena obra-prima para deleite dos olhos, ouvidos e corações de cada leitor.


Cárcere privado
O morse desse corpo
Vento, vigília
Pedaço de mim
O mar que restou nos olhos
Da capo al fine
O mais sutil é a queda
O fim do Brasil
Estrada do Excelsior
Estou viva
Pulvis
Corvos contra a noite
De todas as únicas maneiras
Grito em praça vazia
Era preciso um caminho
O médico e o barqueiro e outros contos
Poesia reunida
Numa nada dada situação 

