[Livro em pré-venda – envio a partir de 25 de agosto]
“No extremo oposto ao novo filme de Ruy Guerra, Aos Pedaços (In Pieces) – que mostra de modo alegórico o protagonista em crise paranoica com mulheres autônomas e livres, num impasse diante da emancipação feminina crescente por efeito das políticas feministas –, o livro de Álvaro Miranda, Cartas do amor sem juízo, cria um lugar ambíguo porque instalado no reino flutuante das palavras, e insiste numa atmosfera que move o signatário a escrever cartas a partir de memórias sensuais, sexuais e sentimentais que envolvem a interação. O signatário das cartas tem plena consciência da interação planejada, porque faz parte mesmo da estrutura de uma carta atingir um destinatário, ainda que errático e silencioso, em sua contrapartida de uma correspondência almejada. Na multiplicidade imaginária do rosto das interlocutoras, o destinatário é sempre uma parceira hetero-cis. No tecer das missivas, a escrita das cartas vai consolidando um topos utópico para o qual se dirigem os gestos e as recordações. Todo o movimento da argumentação baseia-se no pressuposto de que os amores serão sempre amáveis. E com essa disposição de ânimo o signatário discorre sobre suas experiências e espera ter configurado a autenticidade de um testemunho. Cabe ao leitor ponderar sobre os meandros em que se expõe o ser amoroso das cartas. Constatar e talvez trazer para si o que de melhor as imagens comunicam.” [Luiz Fernando Medeiros]
Nestas Cartas do amor sem juízo, Álvaro Miranda embaralha o tempo, a gramática dos afetos e a lógica dos vínculos numa torrente de cartas que se confundem com sonhos, confissões, ensaios, crônicas e poesia. São 101 correspondências numeradas fora de ordem – como se o tempo do amor, esse tempo íntimo e desobediente, não coubesse na linha reta dos calendários nem nos manuais de comportamento.
A partir do apagamento dos próprios sonhos e da ausência de uma narrativa clara, o autor inicia, sem perceber, um movimento de escrita que beira a autoanálise, conduzido pela paixão pela palavra e por uma inquietação constante: o que move o amor?
O que o sustenta? O que o ameaça? Nessas cartas, escritas como quem se entrega a uma correnteza, o amor é vivido com espanto, liberdade, ironia e vulnerabilidade – muitas vezes desafiando convenções, contratos e certezas morais. Ora ridículas, ora líricas, ora provocativas, as cartas transitam entre o íntimo e o político, entre o erotismo e a ternura, entre o devaneio e o juízo (ou sua falta). A fidelidade é questionada, o ciúme esmiuçado, o compromisso desromantizado. O amor é visto como arte – e, como tal, imprevisível, incontrolável, feito de linguagem, silêncios, abismos, reinvenções. A correspondência, no fundo, é mais que forma: é método de escuta e exposição, de partilha e de entrega. Um modo de tentar, mesmo sem chegar a saber, o que talvez ninguém saiba – mas todo mundo sente.
Este é um livro para quem já amou, ama ou ainda quer se perder um pouco mais nessa vertigem sem mapa chamada amor.