Como quem não quer nada, Elisa Guedes fala, dentre outras coisas, de política, de educação, de arte, de relacionamentos.
É louvável o talento que a escritora tem para lidar de modo acessível com temáticas por vezes melindrosas, mas, ao mesmo tempo, em belo paradoxo, evidenciando o quanto essas temáticas podem ser labirínticas. Sem deixar de serem crônicas, considerando-se o que elas podem ter de leveza, de graça ou de lirismo, os textos deste livro acabam trazendo à tona uma mulher interiorana que anseia por um cosmopolitismo genuíno: ao mesmo tempo em que reflete, por exemplo, sobre a vida longe dos grandes centros urbanos ou sobre a velhice, a autora quer entender os tempos correntes e estar neles não com saudosismo acrítico, mas com desejo de se manter atualizada. Nesse vaivém ora no passado, ora no presente, ganha o leitor uma das mais notáveis características da literatura — a atemporalidade.
[Lívio Soares]