Atentos aos chamados das ruas, da poesia, do ritmo mais para o flâneur do que para o maratonista, os textos de Samuel Punzi transitam pelas vias misteriosas da criação, pelas marcas atentas que o olhar lírico e sonhador do autor deixam nas calçadas ou na paisagem. Encontros e desencontros nas praias, no bar, no bloco de carnaval, durante a pedalada; filmes e livros que marcaram o cronista (e a crônica); o Rio de Janeiro se esquadrinhando, de Ipanema à Lapa, passando pelo Centro da cidade onde o prédio desaba num fim de tarde (que nem o viaduto para o outro cronista, o da MPB), nada escapa à pena ou ao posto de observação de Samuel. Nada fica em casa neste Quando a rua me chama.
O que temos aqui são textos que olham a vida, os indivíduos, as ruas, calçadas e transversais do olhar com delicadeza e enorme boa vontade para compreender gestos, atitudes e reações que às vezes nos parecem incompreensíveis. Mas se nada do que se trata do ser humano é estranho, olhemos também, com olhar de ver, enquanto se degusta palavras. Retratar o nosso entorno é assim mesmo; Rubem Braga, Sabino, Antonio Maria, Mendes Campos e outros não deixam mentir.
Crônicas em estado de poesia. Poesia em estado crônico.
Luís Pimentel